10.6.10



É engraçado como a gente encontra semelhanças entre sons de artistas supostamente 100% opostos. Uma vez, ouvindo Gilberto Gil na praia alguma canção me lembrou muito o Architecture in Helsinki - vai entender.

Algo parecido aconteceu quando ouvi o disco novo do Julian Lynch ("Mare", 2010), que na hora me lembrou absurdamente a trilha do trio +2 para o último espetáculo do Grupo Corpo, "Imã" de 2009. Claro que há diferenças brutais entre os dois discos, mas o mais importante é o quanto eles se assemelham.

A trilha do +2 é como um resumo intrumental dos três discos anteriores do projeto - do qual eu gosto muito, mas dedicarei um post a explicar melhor numa outra oportunidade. Como é uma trilha para um espetáculo de dança contemporânea, o disco tem muitos momentos e ritmos variados. Começa com metais e um baixo pesado numa canção super abstrata em "Chorume" e se desenvolve de maneira curiosa, com "capítulos" mais eletrônicos abstratos ("Padre Baloiro" - adoro o nome), que em casos se misturam com samba (ou elementos de, como em "Deixa Disso") e tem até momentos pop gostosos como na ensolarada "Você Reclama" - uma das músicas em que se percebe claramente a composição - nesse caso, do Domenico Lancelotti, com assobios e palmas, entre outras graças que tornam a música incrível.

É difícil descrever uma trilha de dança contemporânea sem parecer chato, mas em geral as trilhas do Corpo são muito boas. Nesse caso ficou perfeita, pois além de se encaixar perfeitamente com a coreografia do grupo, a trilha é uma delícia de escutar em qualquer ocasião. Acho que é um dos raros casos de competente música nacional jovem e inovadora.



A semelhança de "Mare" com "Imã" não se extende ao disco todo, mas eles se aproximam esteticamente nas faixas mais serenas, onde o baixo, a guitarra e os instrumentos de sopro conversam sobre uma base de batidas e tamborim bem sutil. "A Day At the Racetrack" é o momento do álbum que mais lembra as canções do +2 - uma faixa lenta e curta, mas densa.

Aliás, o disco é quase todo instrumental e muito elaborado - quando as vozes aparecem são bem sutis, quase como um instrumento de apoio, não de destaque. Na verdade, a vibe de "Mare" está bem inserida nessa categoria de sons que tenho postado ultimamente - algo de psicodélico, algo de retrô, algo de lo-fi. Também dá para sentir a influência de sons indianos no disco, principalmente na primeira faixa "Just Enough".

Talvez por Lynch ser um acadêmico da música, percebemos que apesar de ser leve e gostoso, o disco é muito bem elaborado, com faixas densas e complexas. Mais uma coleção de belas canções e que - apesar de ainda não ter sido lançado - já é um dos meus favoritos desse ano.


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