19.6.10

sem muito o que dizer hoje
o real estate fala por mim



10.6.10



É engraçado como a gente encontra semelhanças entre sons de artistas supostamente 100% opostos. Uma vez, ouvindo Gilberto Gil na praia alguma canção me lembrou muito o Architecture in Helsinki - vai entender.

Algo parecido aconteceu quando ouvi o disco novo do Julian Lynch ("Mare", 2010), que na hora me lembrou absurdamente a trilha do trio +2 para o último espetáculo do Grupo Corpo, "Imã" de 2009. Claro que há diferenças brutais entre os dois discos, mas o mais importante é o quanto eles se assemelham.

A trilha do +2 é como um resumo intrumental dos três discos anteriores do projeto - do qual eu gosto muito, mas dedicarei um post a explicar melhor numa outra oportunidade. Como é uma trilha para um espetáculo de dança contemporânea, o disco tem muitos momentos e ritmos variados. Começa com metais e um baixo pesado numa canção super abstrata em "Chorume" e se desenvolve de maneira curiosa, com "capítulos" mais eletrônicos abstratos ("Padre Baloiro" - adoro o nome), que em casos se misturam com samba (ou elementos de, como em "Deixa Disso") e tem até momentos pop gostosos como na ensolarada "Você Reclama" - uma das músicas em que se percebe claramente a composição - nesse caso, do Domenico Lancelotti, com assobios e palmas, entre outras graças que tornam a música incrível.

É difícil descrever uma trilha de dança contemporânea sem parecer chato, mas em geral as trilhas do Corpo são muito boas. Nesse caso ficou perfeita, pois além de se encaixar perfeitamente com a coreografia do grupo, a trilha é uma delícia de escutar em qualquer ocasião. Acho que é um dos raros casos de competente música nacional jovem e inovadora.



A semelhança de "Mare" com "Imã" não se extende ao disco todo, mas eles se aproximam esteticamente nas faixas mais serenas, onde o baixo, a guitarra e os instrumentos de sopro conversam sobre uma base de batidas e tamborim bem sutil. "A Day At the Racetrack" é o momento do álbum que mais lembra as canções do +2 - uma faixa lenta e curta, mas densa.

Aliás, o disco é quase todo instrumental e muito elaborado - quando as vozes aparecem são bem sutis, quase como um instrumento de apoio, não de destaque. Na verdade, a vibe de "Mare" está bem inserida nessa categoria de sons que tenho postado ultimamente - algo de psicodélico, algo de retrô, algo de lo-fi. Também dá para sentir a influência de sons indianos no disco, principalmente na primeira faixa "Just Enough".

Talvez por Lynch ser um acadêmico da música, percebemos que apesar de ser leve e gostoso, o disco é muito bem elaborado, com faixas densas e complexas. Mais uma coleção de belas canções e que - apesar de ainda não ter sido lançado - já é um dos meus favoritos desse ano.


30.5.10


Desisti de tentar mudar os rumos do blog. Tenho vontade de postar algumas coisas específicas e não pretendo me contrariar. Mais que nunca tenho optado por bandas com vocais femininos, com um pé no eletrônico e outro na guitarra. Assim é também o som do Broadcast, banda inglesa que faz parte do time da ótima Warp.

O Broadcast faz um som que remete ao Stereolab e ao Lali Puna ao mesmo tempo, carregado por sintetizadores, bateria e vocais femininos deliciosos. Enquanto os dois primeiros lançamentos, "The Noise Made by People" (2000) e "Haha Sound" (2003) são um pouco psicodélicos e remetem aos sons dos anos 60, "Tender Buttons" (2005) é mais voltado para o electro (um tanto tardio, mas que não soa gasto ou datado). Aliás, essa é uma virtude da banda - apesar de se inspirarem fortemente nessa psicodelia sessentista os discos são super atuais e pop - gostosos de se ouvir.

Alguns destaques desses três discos são "Before We Begin" (ultra pop, bem 60's, bem gostosa), "I Found the F", "Michael A Grammar" e "Man is not a Bird", que também lembra bastante sons mais antigos. Poderia citar mais muitas canções ótimas, mas vamos continuar com o post.

O Broadcast lançou no ano passado mais uma coleção de novas músicas velhas - em parceria com o Focus Group (um grupo de música experimental). Nesse novodisco eles levaram o som tradicional do Broadcast de volta às suas raízes, soando bem mais como o primeiro disco, mas com uma pegada ainda mais vintage e experimental, lembrando em alguns momentos trilhas antigas de filmes italianos e franceses.

Mais instrumental que os outros álbums, "Broadcast & the Focus Group Investigate the Witch Cults of the Radio Age" é uma pequena piração da banda, experimentando com as referências de cada um e fugindo um pouco da sonoridade usual deles. "The Be Colony" é a canção mais "Broadcast" do disco - e é ótima, com vocais e os barulhinhos tradicionais da banda. No restante das canções as referências se misturam com maior intensidade e a autoria se dissolve. As músicas ficam mais recortadas e aparecem trechos de sons mais orgânicos, imersos em batidas repetitivas, assim como vocais sobre toques de telefone e por aí vai.

Esse é um disco bem legal e que, apesar de ser mais experimental e instrumental, é gostoso e "fácil" de ouvir. Espero que eles voltem com mais lançamentos desse nível no futuro.


update _ os três primeiros discos da banda aqui.

18.5.10

Sabe música que te faz esquecer de tudo? Até de um cansaço acumulado de dias e dias de caminhada com um converse velho, ou das dores nas costas e joelhos causadas pelo mesmo, ou da histeria que é estar de férias num lugar incrível e que te oferece tudo o que você quiser (ou puder pagar...). Te faz até esquecer quem você é, onde é sua casa, seu trabalho, sua família, tudo. Te leva pra um lugar que é só dela própria, naquele momento. Shows levam essa sensação a um extremo - pelo menos pra mim.

Quando Victoria entra no palco com seus companheiros você até os nota, mas assim que ela começa a se mover e a primeira nota de "Walk in the Park" cantada na sua voz rouca chega a seus ouvidos você é dela. A decoração simples, porém linda do palco funciona super bem - as "piñatas" giram e espalham as cores dos canhões de luz, criando a sensação de movimento num palco onde os músicos pouco se movem. Porém, nada é inexpressivo - pelo contrário

Victoria se mexe como um rock star (ela veste um largo paletó branco, aberto, com as mangas dobradas), e "bate o cabelo" como faria talvez algum dos membros do Metallica, mas de maneira incrivelmente hipnotizante e suave, sem sair da sua posição. Aliás, é incrível como ela não dá um passo sequer e mesmo assim, o palco é dela - todos os olhos miram em sua direção.

Seus comparsas executam com extrema competência todas as canções de Teen Dream, e mais algumas dos discos anteriores - além de presentear a platéia com uma inédita ("never played before live", segundo Victoria). A essa altura estamos todos mais que hipnotizados, impressionados e boquiabertos. Esqueço de mencionar que a voz de Victoria, "pessoalmente", é muito mais potente do que aparenta nos discos e ecoa pela casa. As músicas ganham impressionante profundidade ao vivo.

Pouco antes do fim do concerto, as luzes assumem caráter diferente - a bola de espelhos monstruosa no teto do espaço é iluminada e de repente estamos no vídeo de "Maps", do YYY, mas é "Take Care" que começa. A histeria (interna) atinge limites poucas vezes antes alcançado. Após a última canção - que eu nem me lembro qual foi, dado o estado de hipnose musical, talvez tenha sido "Lover of Mine" - as luzes acendem e a multidão entope as escadarias. Vamos "para casa" com uma sensação esquisita. No dia seguinte João me sugere comprar um paletó.




27.4.10

Os caras do Twin Sister são tão cool, mas tanto, que me fizeram escrever outro post só pra falar um pouquinho mais sobre eles.

É que eu acabo de ver um vídeo sen-sa-cio-nal deles tocando "Something About Us" do Daft Punk (que eu desconheço na versão original). Mesmo assim a cover é digna de vários replays de tão gostosa. O vídeo foi feito num pequeno show num teto no Brookling, e divulgado aqui.

Outra coisa muito legal que eu só reparei agora (oquei, estou desatenta ultimamente) é que no site deles eles colocaram mini playlists de músicas que eles tem escutado, e o mais legal ainda é que nesse mix tem Kraftwerk, Paul McCartney, Donald Byrd e YMO, entre outras coisas. Fantástico. Além disso, postaram um mix de músicas indianas (que ainda não ouvi, mas não vejo a hora). Tudo pra baixar. Passa lá.

26.4.10



Posts semanais? Bom, já está melhor que os antigos anuais... Estou me esforçando bastante, ainda mais agora que se aproxima uma ausência programada. Eu continuo na mesma vibe, mas para mudar um pouco, hoje posto dois discos (na verdade EPs) que além de excelentes, estão colocados para download gratuito e legal na internê!


As duas bandas tem som parecido - vocais femininos, vibe dreamy, elementos eletrônicos, etc... Soa familiar? Bem, é o que eu tenho gostado de ouvir.


Voltando às bandas - Twin Sister é um coletivo de músicos de NY (e arredores) que gosta de brincar bastante com sua música. Eles deixam pedaços de suas composições em desenvolvimento no site, pedem comentários das pessoas, vão retrabalhando as canções e postando novamente. É interessante como além de registrar o processo de composição eles dividem isso com as pessoas.


Mas o legal mesmo é que a banda é boa, e traz certo frescor pop ao tipo de música que tem dominado este blog ultimamente. O último lançamento do grupo, "Color Your Life", mostra bem isso. São 6 canções que variam do groove a algo similar à trilha do Air, postada aqui em baixo, contando com vocais femininos bem "fofos" e ensolarados. "Lady Daydream" e "Galaxy Plateau" são mais instrumentais, e (não tão) por acaso, são minhas favoritas.


Vale a pena também baixar o primeiro EP deles, "Vampires With Dreaming Kids" (disponível no site da banda) que é um pouco menos elaborado na produção, mas também tem músicas lindasdemorrer como "Ginger", uma balada pop e o hit do disco.



**UPDATE - O EP "Colour Your Life" só estava disponível no site do Twin Sister por duas semanas e eu nem notei, já que o restante do material deles no site continua "downloadable". De qualquer maneira, o link está aqui pra quem quiser baixar diretamente.




O outro EP é um pouco menos fofo e pop, mas não de menor qualidade. "The Years" é o primeiro EP do Memoryhouse, nome que parece perfeito para essa dupla. O som é completamente dream-like. A voz da vocalista Denise Nouvion parece um susurro dentro de um sonho, ou uma memória distante, e as poucas batidas que a acompanham sustentam essa sensação pelo restante do curto álbum. Inclusive em "Lately" a banda usa um sample da excelente trilha do "Eternal Sunshine of the Spotless Mind" que é do Jon Brion. Tudo muito lindo e coeso.


Poderia escrever a palavra sonho mais quinze vezes para descrever a atmosfera criada por esses dois canadenses, mas é mais fácil ouvir. E talvez, entrar no flickr deles para contemplar essas imagens lindas que parecem tiradas de um.... sonho! Fotos cheias de flaires e manchas coloridas, que lembram a capa do EP. Isso tudo sem falar no blog, que também tráz textos interessantes. Bom, taí - é toda essa atmosfera criada pela banda que me fascina. Ouça "To The Lighthouse" e entenda o que eu estou falando.

21.4.10



momentos delicados pedem companhia. momentos delicados pedem música que fala além da letra, além da qualidade sonora e além de estilos musicais.

meus momentos delicados pedem memória, passado, sonho, e saudosismo (tanto do que foi bom como do ruim). meus momentos delicados só são delicados vistos de fora - por dentro são erupções. talvez por isso a música que os acompanham são intensas, mas tem seu lado 'delicado'.

eu não lembro se já postei esse disco aqui - mas não interessa. é muito bom e merece ser postado novamente. a trilha do virgin suicides - meu filme favorito da adolescência, junto com high fidelity. filme à parte, a trilha é genial. tanto, que posto aqui os dois discos - o do air e o score.

o do air é um disco do air - muito "lounge", guitarras setentistas, batidas e teclados oitentistas, vocais eventuais e um certo ar sombrio (a lá "felt mountain"). "playground love" até hoje me deixa arrepiada, e me faz lembrar de cada cena do finzinho do filme. "highscool lover", a versão instrumental também é linda - e tenho certeza que inspirou o jon brion pra trilha do 'eternal sunshine' - outra belezura. "dead bodies" é uma pérola dançante perdida no meio dessa escuridão toda. mas a trilha do air é só pra dar o clima.

a trilha restante é fantástica - composta majoritariamente por bandas que - na época (eu era bem novinha quando saiu esse filme...) - eu nem fazia idéia do que era. e foi lindo, descobrir o heart, o sloan, todd rundgren...

na verdade a trilha é uma grande bizarrice. uma compilação 70's, que faz todo o sentido, principalmente se vc já assitiu ao filme. não sei nem como descrever direito. talvez essa seja a graça - é apenas uma mistura de canções velhas, mas que ganham sentido por causa de uma história, por causa de cinco garotas loiras, por causa de uma família despedaçada, de um professor de matemática, de uma mãe autoritária, de um subúrbio deprimente, de uma paixão desiludida, da cecília, dos discos queimados e da árvore deposta; por causa da obsessão, por causa da asfixia.

13.4.10


Ultimamente tenho escutado com mais frequência bandas parecidas entre si, geralmente com mulheres no vocal, sons mais eletrônicos e algo "dream pop". Coisas que me lebram o Air da trilha de "Virgin Suicides" e o "Felt Mountain" do Goldfrapp - dois discos que eu amo.

Uma delas é White Hinterland, aka Casey Dienel. Na verdade faz um tempinho que estou querendo postar o "Kairos", terceiro disco da compositora, mas o único que me fisgou de verdade. Esse álbum é bem diferente dos outros trabalhos dela, e segue bem a linha que eu havia falado (batidas eletrônicas, voz feminina, etc.).

Sua voz forte e fina, somada às batidas pesadas e sintetizadores levam a sonoridade muito para o lado do Dirty Projectors durante alguns momentos do disco, mas quase sem guitarras - o foco é mesmo nas batidas. "Moon Jam" e "No Logic" são dois bons exemplos dessa semelhança - principalmente a segunda, onde a levada é mais "africana" somada a breves momentos de guitarra (que mais parecem likembés).

Mas as minhas favoritas são mesmo os hits: "Amsterdam", a mais sombria e intimista do disco é um pouco mais industrial, mas ao mesmo tempo super delicada - a voz de Casey casa com as batidas de forma inexplicavelmente harmoniosa. E por fim, "Icarus" - hit pop de levada simples, ritmada e fácil. Uma delícia.

Kairos não é um álbum espetacular, mas é uma ótima coleção de belas canções.

5.4.10


Joanna Newsom tem apenas 3 anos a mais que eu. Esse dado me assustou muito, já que um disco desses transborda maturidade. "Have One On Me" é uma paulada, uma grosseria, de tão bom que é. E olha que eu nem sou fã incondicional da cantora - perdi o show que ela fez por aqui em 2007, mesmo tendo pago pelos ingressos.

Mas voltemos ao tão discutido álbum - colocado rapidamente pelo time do Pitchfork no selo "best new music" do site, com nota 9.2 (passe lá e verá que dentre os 20 últimos discos "selados" como BNM, o único que se aproxima de Joanna é o "Teen Dream", já postado aqui, com nota 9.0).

Além da voz "nova", esse lançamento apresenta Joanna mais pretenciosa, machucada e ao mesmo tempo segura. E isso tudo é ótimo. A influência de Callahan na música dela (pelo menos para mim) parece óbvia, e vai além das letras, inserindo trechos bem americanos no meio desta "ópera folk chinesa". Isso aparece claramente em "Good Intentions..." e "Soft As Chalk".

Esta outra influência -a da ópera chinesa- foi notada por um amigo (este sim, um grande fã dela). Achei curioso quando ele mencionou, mas após uma audição cuidadosa fui lentamente percebendo elementos orientais - as distorções na pronúncia das palavras, os tambores, e até os tons usados nos instrumentos, como a harpa. Os 3 primeiros minutos de "Baby Birch" mostram bem esse "lado oriental" do disco dela. E lá pelo oitavo minuto um "riff" - se é que pode ser chamado assim - entrega totalmente o que estou dizendo.

O mais legal é quão sutilmente ela mistura essas influências e muda de uma pra outra dentro de segundos em uma canção. E como ela faz duas horas inteiras de música passarem num instante.
 

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